EDUARDO COUTO

Onde a legislação ganha alma e o cuidado se torna prática viva e transformadora.

O sonho de um prestador de serviços em ILPI

Naquela noite, após mais um dia de visitas técnicas e orientações, adormeci com a cabeça repousada sobre um amontoado de anotações. Sonhei.

No sonho, eu caminhava por uma instituição que não era nenhuma em específico, mas parecia conter um pouco de todas as que já conheci. Os corredores eram iluminados pela serenidade. O silêncio era calmo, não por ausência de som, mas por presença de cuidado. E havia um jardim — sempre há um jardim nos sonhos bem cuidados.

Tudo naquele lugar parecia respirar em harmonia. A estrutura física era segura, acessível, funcional. Cada ambiente refletia o respeito e a dignidade de quem ali vivia. O mobiliário, os pisos, a ventilação, os banheiros adaptados — tudo estava conforme as normas, mas não de forma fria ou burocrática. Estava conforme porque cuidava.

As pessoas que ali trabalhavam se moviam com competência e gentileza. Era visível que foram bem selecionadas, treinadas, capacitadas. Sabiam o que faziam e por que faziam. Não repetiam protocolos mecanicamente — eles haviam sido incorporados como parte da cultura do cuidado.

E os registros… estavam ali. Tudo documentado, analisado, planejado. O Plano de Cuidado Individualizado deixava de ser papel e virava prática. A gestão de risco não era só termo técnico, mas compromisso assumido.

Percebi que ali se materializava algo maior: o espírito do artigo 6º da RDC 502/2021. A dignidade da pessoa idosa sendo promovida de forma integral. A autonomia sendo respeitada. A convivência familiar e comunitária sendo estimulada. A escuta ativa sendo praticada. O envelhecimento sendo vivido com sentido.

No sonho, eu não era o protagonista. Eu era um dos pilares invisíveis que sustentavam aquele lugar. Era o apoio silencioso que ajudava a construir tudo aquilo: orientando gestores, organizando rotinas, traduzindo exigências em possibilidades. Meu papel era dar suporte para que tudo fosse possível — da estrutura física ao cuidado ético e seguro.

Acordei com um sentimento forte: o sonho não era utopia. Era roteiro.

Afinal, prestar serviço para uma ILPI não é apenas cumprir contrato ou repassar conhecimento. É colaborar para que cada idoso e cada profissional vivam o cuidado com dignidade, responsabilidade e sentido.