Sonho com um mundo onde os profissionais do CUIDADO saibam falar sobre o seu trabalho de forma autêntica e eficaz . Escrevo isso nas linhas centrais do meu “Sonho de CUIDAR“.
Um sonho que impulsiona o meu trabalho há mais de 10 anos, apoiando a cultura do cuidado nas ILPI da Itália.
Fome por contar histórias
O desejo por uma narrativa digna do trabalho de CURA e do mundo das ILPI está no coração de muitos e no meu também.
Tornou-se ainda mais forte após a pandemia, quando a sociedade foi obrigada a enxergar a realidade do cuidado, muitas vezes de forma distorcida.
A grande questão é: como trazer essa narrativa à luz? Como contar a verdade sobre o que acontece dentro das ILPI sem cair na armadilha da vitimização ou da invisibilidade?
Van Gogh nos ajude!
Em uma conferência na Residenza Richelmy, na Itália, tentei esclarecer minha posição sobre esse tema por meio de uma pintura: Os Comedores de Batata, de Vincent Van Gogh.
Van Gogh é muitas vezes meu fiel aliado quando não sei como dar corpo aos meus pensamentos.
V. Van Gogh, Os Comedores de Batata, 1885 | Museu Van Gogh, Amsterdã
O ponto principal que eu queria transmitir é que não há necessidade de ter medo de dizer as coisas como elas são.
É importante ter a coragem de narrar tudo sobre nós mesmos com autenticidade , expondo-nos também a críticas e observações (das famílias, por exemplo), reduzindo a atitude comunicativa defensiva e sem ir em busca do “panorama geral”.
Os camponeses de Van Gogh são desajeitados, marcados pelo tempo, sem filtros e embelezamentos; e são retratados em um momento simples da vida cotidiana. A luz é fraca, quase sombria. Mas a obra como um todo é linda, verdadeira, autêntica… e entrou para a história.
Precisamos dessa coragem para contar a nossa própria história no cuidado.
Algumas ideias despenteadas
Contar toda a “verdade humana” que existe no nosso mundo cotidiano, com autenticidade : esse é essencialmente o convite.
Defender sempre e de qualquer forma, não apenas as ILPI, mas o que elas representam: respeito, dignidade e acolhimento, e principalmente o CUIDAR, que é a nossa marca e o nosso propósito.
Aprender a atrair curiosidade e confiança de “quem está de fora”, fazendo emergir a história e a identidade, não das Entidades, mas das PESSOAS que as habitam e por elas passam. Muitas ILPI garantem qualidade de vida para os adultos idosos que não teriam suporte familiar. Precisamos destacar o papel positivo dessas instituições e como elas podem ser fortalecidas.
Deixe de lado a ilusão de que reclamar mais dinheiro e direitos levará realmente a ter mais dinheiro e direitos.
Abraçar, em vez disso, a ideia de que dinheiro e direitos virão apenas quando, como comunidade de cidadãos, estivermos realmente dispostos a acreditar a mudança acontecerá quando mostramos que a forma do CUIDAR é um dos investimentos mais importantes que uma sociedade pode fazer.
Ou seja, quando, em qualquer contexto da nossa vida social, estivermos realmente dispostos a acreditar que as pessoas são fins e não meios.
As pessoas devem ser tratadas como seres com valor próprio, e não como meros instrumentos para atingir outros objetivos.
No contexto das ILPI e do cuidado, isso quer dizer que os idosos não podem ser vistos como uma “carga” ou um “problema” social, assim como os profissionais do cuidado não devem ser tratados como mão de obra descartável.
O verdadeiro investimento no cuidado acontece quando a sociedade reconhece que cada pessoa tem dignidade e merece ser valorizada pelo que é, e não apenas pelo que pode produzir ou pelo custo que representa.
Traduzido e adaptado por: Aline Salla
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