Você está prestes a ler o texto da nossa newsletter mensal, editado por GIULIA DAPERO. Na última sexta-feira de cada mês, divulgamos uma reflexão filosófica para os leitores da Revista Cuidar.


Se, em nossa primeira newsletter, olhamos para as mãos dos que cuidam — firmes como as dos camponeses de Van Gogh —, agora é o corpo partido de Frida Kahlo que nos chama.

Este editorial começa na sua coluna quebrada.

Ao olhar para ela, não se pode deixar de sentir a sensação de aprisionamento que seu corpo, devastado por um acidente de ônibus, lhe impunha.
Mas ao encarar seus olhos, algo mais aparece: um orgulho sereno, uma espécie de desafio silencioso que, para mim, se resume em três palavras:

Aceite a jornada

Mesmo quando a “viagem” consiste em ficar deitada numa cama, imóvel.
Mesmo quando a vida exige mais coragem do que movimento.

O corpo de Kahlo espelha aquilo que muitos de nós sentimos: limites, dores, cansaços. Mas seus olhos nos ensinam algo mais profundo — que é possível estar presente em cada instante, mesmo nos mais difíceis.

Maio de Cuidar

O viajante é aquele que sabe que tudo passa.
Sabe, também, que ele mesmo está passando.
Que é parte do vento, e não de um ponto fixo.

Sempre em movimento — ainda que esse movimento, às vezes, aconteça apenas por dentro — o viajante não é turista. Como dizem os Mercanti di Liquore numa bela canção italiana:

Ele não viaja para voltar feliz,
mas porque escolheu a profissão do vento.

Viajar, nesse sentido, é viver.
É permitir que os sistemas onde nos encaixamos — a rotina, os papéis, os pesos — possam se suavizar, como quem estica a coluna, respira fundo e se reconecta com o que é essencial.

Essa ideia de deslocamento, flexibilidade e transformação — que muitas vezes começa dentro, na alma ou no corpo — é o fio condutor das publicações de maio na CUIDAR.

Maio foi um convite para respirar fundo, reorganizar nossos ritmos e descobrir o poder transformador de cada sopro — seja ele de dor ou de esperança. Que essas leituras inspirem você a continuar presente na sua jornada, aceitando cada passo (ou pausa) como parte essencial do trajeto.

Não sei em que jornada você está agora.

Mas sei que Frida Kahlo, com todas as suas dores, fez de sua arte um espaço de transformação.
Ela desceu até as profundezas de si mesma e, de lá, emergiu com imagens que nos fazem ver o mundo com outros olhos, transformando cada ferida em arte.

Talvez essa também seja a profissão do vento:
transformar a dor em linguagem, a limitação em beleza, o instante em presença.

E lembre-se: todo domingo, terça e quinta-feira, temos um encontro especial na Cuidar — um momento de troca, reflexão e conexão com o mundo das ILPI. Esperamos você!

Até lá, siga deixando o vento guiar sua profissão do cuidado.

Texto traduzido e adaptado por: Aline Salla.

Em nome da Revista Cuidar, agradecemos às ILPI parceiras e aos PATROCINADORES que caminham conosco nesta jornada. A distribuição gratuita dos artigos tem sido possível graças ao apoio dessas empresas que acreditam e investem em nosso projeto. 

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