Gerir uma instituição de longa permanência para pessoas idosas (ILPI) é habitar um território ambíguo — entre o acolhimento de um lar e as exigências de um serviço que sofre cada vez mais pressão por oferecer rotinas de saúde. Nessa intersecção, o cuidado ganha contornos únicos: precisa ser técnico, sim, mas sobretudo humano, relacional e contínuo.
Os bastidores emocionais da gestão do cuidado
Ao longo dos anos, nas trocas que mantenho com centenas de gestores de ILPI em todo o país, fui compreendendo algo que nem sempre aparece com clareza nos relatórios ou nos manuais de gestão:
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Há um desgaste emocional profundo em manter uma ILPI funcionando com dignidade, segurança e afeto.
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E há também uma solidão que atravessa o dia a dia de quem segura essa ponta.
Existe, no entanto, um propósito que pulsa forte.
São poucos os espaços onde esse esforço é reconhecido.
Mas ele se revela nas conversas que tenho, todos os dias, com quem está na linha de frente.
Gestores e gestoras que, entre um cuidado e outro, abrem espaço para compartilhar suas inquietações, seus dilemas, suas conquistas silenciosas.
É por acompanhar essas vivências de perto — sempre com respeito e escuta — que me sinto à vontade para escrever sobre esse tema.
E é também por isso que decidi inaugurar esta coluna abordando os desafios pouco falados — e muito sentidos — na gestão cotidiana de uma ILPI.
Quando o cuidado vira propósito: a Revista Cuidar como espaço de troca real
Agradeço, com muito carinho, à Aline e à equipe da Revista Cuidar pelo convite generoso.
Me senti honrada em fazer parte desse projeto que, mesmo não sendo um espaço de escuta direta, se propõe a ser um espaço de troca real, construído a partir da escuta atenta que nós, colunistas, cultivamos em nosso dia a dia.
A Revista nasce com essa proposta bonita e necessária:
Reunir vozes que vivem o cuidado de perto — e que desejam, a partir das experiências e aprendizados do cotidiano, contribuir para fortalecer a rede de quem cuida.
Cada colunista traz um olhar único,
mas todos partilhamos o mesmo propósito: somar.
O que vem por aí: caminhos para uma gestão do cuidado mais humana e estratégica
Nas próximas edições, vamos aprofundar temas como:
– Como estruturar a gestão de forma mais estratégica, mesmo em contextos desafiadores
– Os impactos da rotatividade e o papel da cultura institucional
– A importância de cuidar das equipes para garantir a qualidade do cuidado
– A gestão da informação como eixo silencioso, mas essencial, na rotina da ILPI
Na próxima coluna, vamos dar um passo adiante: convido você a refletir comigo sobre como a gestão pode ser mais estratégica — e, ainda assim, profundamente humana.
E espero, de verdade, que esta coluna se torne um espaço leve, acolhedor e útil para o seu dia a dia.
Que possamos trocar.
Que possamos crescer juntos.