Comunicar e compartilhar o cuidado

A comunicação está presente em cada momento e em cada detalhe dos nossos espaços de cuidado. Se, em um ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos), a comunicação já é essencial nas operações rotineiras (compartilhar informações, envolver as pessoas nos processos, atualizar sobre mudanças…), ela se torna vital no momento em que a equipe de cuidados encontra o familiar.

Nessa ocasião, a equipe compartilha (ou seja, “divide com”) a pessoa mais próxima do adulto idoso a percepção, as certezas, os sucessos e as constatações sobre quem ele é agora.

Se pararmos para pensar, podemos perceber o quão estranho é que nós próprios – profissionais que até pouco tempo atrás não fazíamos parte da vida daquela pessoa – acabamos explicando ao seu parente mais próximo, a pessoa emocionalmente mais envolvida, quem é o seu pai, marido ou avô.

E fazemos isso, muitas vezes, de cima para baixo, com base em avaliações, observações e um conhecimento que raramente abrange a pessoa por inteiro.

Nos PAI (Planos Assistenciais Individualizados), não se fala de emoções ou desejos, é verdade. Mas isso não significa que não devemos levá-los em consideração e respeitá-los.

Para incentivar uma reflexão, proponho dois relatos fictícios: no primeiro, há um encontro frio entre um profissional de saúde e uma cuidadora familiar, onde o primeiro ignora o papel e os sentimentos da pessoa à sua frente. No segundo, a cuidadora e seus sentimentos são os mesmos, mas a equipe consegue acolhê-los, mesmo sem poder eliminar completamente suas ansiedades e dúvidas profundas.

Os profissionais, nesse caso, conseguem envolvê-la, em um percurso no qual o compartilhamento inclui também o peso que o familiar carrega consigo – apesar das dificuldades e desafios do trabalho em um RSA, que não são negados.

Dizer “a pessoa está no centro”

Lucia sobe os poucos degraus com certa ansiedade… é a primeira vez que é convocada.

Plantas verdes exuberantes, mas artificiais, a recebem no hall da ILPI. Da primeira vez que entrou, esperava odores desagradáveis e um ambiente “acinzentado”, mas ficou impressionada com a limpeza.

Por outro lado, os enfeites chamativos que lembram inconfundivelmente uma escola primária a deixaram perplexa. E a sensação de estar no lugar errado não desapareceu quando lhe disseram, com certo orgulho, que tinham sido feitos pelos idosos.

Por um segundo, a imagem de seu pai colorindo flores a faz sorrir, mas ao engolir, o sorriso desce como um peso e se estanca dentro dela.

Agora está sentada, esperando que o médico a receba.

Mesmo tendo sido chamada, os minutos passam e, para ela, é inconcebível estar ali, quando, a poucos metros acima de sua cabeça – no andar superior – está seu pai.

Ele não a espera, não mais. Não se lembra dos compromissos e perdeu até a noção do tempo. Parece ter piorado.

Suas mãos não param quietas. Seus dedos se entrelaçam e depois seguem um padrão em sua roupa impecável. Já conferiu os botões pela terceira vez. Cruza os braços, por alguns segundos, depois pega o celular para conferir a hora. “Se marcam um horário, deveriam respeitá-lo”, pensa consigo mesma.

Um movimento rápido anuncia a chegada do médico, que prontamente se desculpa pelo atraso. Um imprevisto exigiu sua presença, diz ele, com um tom que lhe parece presunçoso.

Ela morde o lábio. Gostaria de perguntar se o “imprevisto” envolveu seu pai. Mas se cala.

Segue calmamente o jaleco branco, enquanto, dentro dela, um mundo de perguntas e frustrações quer explodir.

Eles chegam ao escritório e lhe oferecem uma cadeira que já viu dias melhores. O ambiente é tão formal e impessoal que até mesmo a presença de uma pequena joaninha traria uma mudança perceptível. Pastas, papéis, lâmpadas frias de neon, uma persiana com um cartaz dizendo “quebrada” e armários cheios de medicamentos são os elementos mais notáveis da sala.

Se observar com atenção, pode notar restos de fita adesiva atrás da porta, um porta-canetas cheio de canetas velhas, um calendário com o mês errado e uma pasta com os pedidos de “permissões”. Nada mais. Nenhuma planta, nenhuma foto, nenhum objeto familiar ou acolhedor.

O médico sorri antes de se afundar em um papel cheio de anotações.

Faz questão de informá-la que, ali, “a pessoa está no centro” e que a missão de toda a equipe é garantir o melhor atendimento possível. Mas logo sua expressão muda para um desconforto visível, e ele se vê obrigado a perguntar o nome de seu pai. No PAI, não está registrado.

Ela responde, perplexa, já que foi o mesmo médico que realizou a admissão dias antes. Quase quer corrigir em voz alta. Sente uma crescente tentação de tirar seu pai dali (pelo menos em casa sabem como chamá-lo). Mas, em vez disso, respira fundo e espera para ver se, entre tantas palavras, alguma pode reforçar sua escolha.

O médico fala com o papel, sem sequer olhar para ela. Usa frequentemente termos técnicos, dificultando sua compreensão da situação.

Ela só consegue entender que não restou muito do seu pai; enquanto o médico fala, sua mente forma a imagem de um saco vazio, que tanto faz onde é deixado, pois continua sendo um saco vazio…

Mas o que realmente fere sua alma é saber que seu pai não está se adaptando bem: apresentou distúrbios comportamentais e, em um caso, até um comportamento agressivo contra um auxiliar de enfermagem. Por isso, a equipe – o médico faz questão de destacar que não foi apenas uma decisão sua – achou necessário ajustar a medicação e introduzir uma nova, conforme necessário.

“É essencial para acalmá-lo e evitar que se machuque ou machuque os outros. Também foi necessário introduzir um sistema de contenção enquanto está sentado à mesa, para evitar quedas.”

Ela se pergunta como é possível que, até pouco tempo atrás, ele corria atrás da neta, e agora escorrega da cadeira. Talvez o remédio que ajuda também tenha efeitos colaterais? Mas não… certamente levaram isso em consideração!

O médico continua, acelerando para concluir rapidamente. Ainda não levantou o olhar e já não está mais lendo, apenas falando. Finaliza dizendo que, certamente, é uma fase em evolução e exige atenção, então o próximo PAI será daqui a três meses.

“Se não se importa, preciso da sua assinatura para o consentimento…”

Ser “a pessoa no centro”

Lucia sobe os poucos degraus com certa ansiedade… é a primeira vez que foi convocada.

Plantas verdes e exuberantes lhe dão as boas-vindas no hall da ILPI. Da primeira vez que entrou ali, esperava odores desagradáveis e um ambiente “cinzento”, mas, em vez disso, ficou impressionada com a limpeza.

Nota alguns quadros nas paredes, contendo fotos de idosos em atividade: parece-lhe que dão um toque de vida e de sensação de “casa”. Por um segundo, a ideia de seu pai no meio daquelas pessoas envolvidas em atividades que não têm nada de infantil gera nela um sorriso que, ao respirar, sobe como um perfume e ali permanece.

Agora está sentada, aguardando a chegada do médico. Embora esperada, os minutos passam e, para ela, é inconcebível ficar ali quando, a poucos metros acima de sua cabeça – no andar superior – está seu pai.

Ele não a espera, não mais. Não lembra dos compromissos e perdeu até mesmo a noção do tempo. Parece ter piorado.

Não consegue manter as mãos paradas. Os dedos se entrelaçam e depois seguem um detalhe no tecido impecável de sua roupa. Conferiu os botões pela terceira vez. Cruza os braços por alguns segundos, depois volta ao celular para checar a hora. “Se se marca um compromisso, deveria ser respeitado”, pensa consigo.

Um movimento rápido anuncia a chegada do médico, acompanhado por duas moças de uniforme: uma de azul e outra em um tom de verde alegre, mas não excessivo. Elas sorriem, chamam-na pelo sobrenome e até pelo nome, como se fosse uma chamada.

— Bom dia, senhora Lucia, desculpe-nos pelo atraso. Evitaremos dar desculpas, infelizmente estamos com falta de pessoal e, muitas vezes, correndo contra o tempo — diz o médico.

Ela se esforça para compreender, apesar das sensações desagradáveis dentro de si, que são suavizadas por uma frase inesperada, dita por uma das moças uniformizadas, que se apresenta como enfermeira:

— Desculpe-me, mas sei que a senhora é a filha mais velha e foi quem esteve mais ao lado do seu pai neste último período… não deve ter sido nada fácil. Acabei de passar por ele, fiz questão de vê-lo pessoalmente ao voltar das férias, para não depender apenas dos prontuários.

Morde o lábio. Gostaria de perguntar se têm a mesma atenção com todos os idosos, mas se cala. Acompanhada pelo trio, um mundo de perguntas e frustrações dentro dela deseja questionar, saber, conhecer mais sobre um pai que já não a reconhece.

Chegam a uma pequena sala acolhedora e reservada, onde lhe oferecem uma poltrona.

O ambiente é informal e cuidadosamente personalizado, mas sem parecer artificial ou exagerado: são os pequenos detalhes que fazem a diferença, como um gracioso conjunto de chá. Plantas, móveis sofisticados, luminárias com uma luz quente agradável, uma cortina com um bordado discreto e armários espaçosos e entalhados compõem a decoração mais marcante.

Se observar atentamente, nota-se uma lixeira vazia, um porta-canetas coloridas, um calendário com uma bela imagem sobre o mês e uma pasta contendo os documentos de seu pai. Ele se destaca em uma foto onde esboça um sorriso.

Outras duas pessoas chegam e se apresentam com cordialidade: o fisioterapeuta e uma assistente social, que sorri antes de se sentar. Fazem questão de informá-la de que, em sua instituição, a pessoa está no centro e que a missão de toda a equipe é garantir o máximo cuidado.

Todos estão ali por ela, disponíveis para responder a qualquer pergunta.

Então, começam a chamar seu pai pelo apelido que todos usavam em sua cidade. No PAI (Plano de Atendimento Individualizado) não consta, mas eles sabem. Ela fica perplexa e menciona isso, descobrindo, graças a eles, que o nome é a primeira forma de identidade e que, mesmo que uma pessoa pareça esquecida, essa lembrança permanece.

Quase sussurra um “obrigada”. Sente-se mais leve com a crescente sensação de que fez a escolha certa para seu pai, pois, pelo menos ali, sabem valorizar a Pessoa.

Respira fundo e espera para ver se entre tantas palavras alguma lhe soa estranha, mas cada profissional tem o cuidado de traduzir os termos técnicos antes mesmo que ela pergunte.

O médico fala olhando em seus olhos, sem papéis, com uma certa calma e segurança no que diz. A equipe lhe conta como estão trabalhando com o que ainda existe de vital em seu pai. E ela percebe que ainda há muito, se tantos objetivos podem ser estabelecidos.

Ela se endireita ao ouvir palavras como favorecer a socialização. Porque, explicam, cada pessoa se torna um recurso para a outra. Consegue reconhecer na conversa todas as dificuldades, os déficits e os esforços de seu pai, mas se tranquiliza ao ouvi-lo ser tratado como uma “pessoa única” e, sobretudo, sente-se menos sozinha diante de profissionais que lhe inspiram confiança.

Fica sabendo que seu pai tem dificuldades de adaptação, manifestando até mesmo distúrbios comportamentais e reações agressivas contra um cuidador. Mas, justamente hoje, com a mesma profissional, participou da atividade de jardinagem e, depois, preparou ele mesmo – junto com outros idosos – as frutas para seus colegas de mesa.

Não acredita em seus olhos quando a educadora lhe mostra os vídeos: primeiro enquanto planta em vasos grandes e, depois, descascando uma maçã ao lado da equipe de plantão.

Por esse motivo, a equipe enfatiza que é prematuro tomar uma decisão sobre o aumento da medicação, preferindo adotar diferentes estratégias e monitorar a situação dia após dia. Além disso, não há necessidade de implementar nenhum sistema de segurança enquanto ele está sentado à mesa para evitar quedas, pois está sempre acompanhado, supervisionado ou envolvido em atividades como fisioterapia.

A equipe continua perguntando gentilmente se conseguiram se explicar bem, reafirmando a total disponibilidade para futuros encontros. Lucia ainda não desviou o olhar e observa cada pessoa na sala, até ousar sussurrar aquele “obrigada”.

— Se não se importa, pedimos apenas uma assinatura para o seu consentimento. Pode assiná-la aqui, acima de todas as nossas…

A coerência entre palavras e ações

Lucia e seu pai são as mesmas pessoas em ambos os relatos: os sentimentos dela e a condição de saúde dele não mudam. O que muda, no entanto, é todo o contexto ao redor, inclusive em termos de cuidados com o ambiente.

A diferença fundamental está nas pessoas e nas escolhas que elas fazem sobre como compartilhar o percurso de cuidados.

Em ambas as situações, repete-se o “mantra” sobre a “pessoa no centro”, mas no primeiro caso, isso soa desconexo com cada detalhe ao redor – tornando-se um slogan – enquanto no segundo caso, é pronunciado em coerência com as escolhas e comportamentos dos profissionais.

Para chegar a um novo estilo, não basta o desejo de criar um caminho de compartilhamento mais sensível. É preciso planejá-lo, estudá-lo e, inevitavelmente, treinar-se para uma mudança que aproxima e gera confiança nas famílias.

Claro, aqui tratamos de narrativas fictícias, inevitavelmente gerais e em parte suavizadas, em relação ao dia a dia de uma ILPI, que é feita de “muitas dificuldades e pouco tempo”.

Mas a co-participação continua sendo um passo fundamental, único e irrepetível; uma oportunidade de encontro onde se criam alianças em benefício de uma rede formada pela equipe de cuidados, cuidadores e pela própria pessoa idosa. Um caminho que apoia o processo mais bonito e difícil da vida de cada um de nós: o “viver ao lado de…”.

Autor – Itália: Luca Lodi – Educador profissional.

Tradução: Aline Salla

About the Author: Aline Salla

Fundadora e Diretora editorial da Revista Cuidar

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